domingo, 22 de fevereiro de 2009

Nostalgia matinal


Magritte
" Na nossa vida cotidiana refletimos sobre o que queremos dizer, escolhemos a melhor maneira de dizê-lo e tentamos dar aos nossos comentários uma coerência lógica. Uma pessoa instruída evitará , por exemplo, o emprego de metáforas complicadas a fim de não tornar confuso seu ponto de vista. Mas os sonhos tem uma textura diferente. Neles se acumulam imagens que parecem contraditórias e ridículas, perde-se a noção do tempo, e as coisas mais banais se podem revestir de um aspecto fascinante e aterrador." Carl Jung

Sonhei com a velhice vestida de solidão. Casa antiga e professora de infância. Que faço eu na fila de saída do colégio? A freira-professora me reconheceu e nao hesitou: " Você ainda aí?" Eu tão obsoleta nesse momento com trinta e três anos envelhecidos, embolorados. Jogava minhas palavras para a freira:"Aí? Esta insinuando que estou fora do lugar?" Singela e rígida com óculos fundo de garrafa ela me abraçou e me levou ate o portão. Antigamente não era assim; não reparavam tanto em mim como nos sonhos. Na saída tinha uma árvore. Na árvore um par de olhos que passeavam solitários brotando do caule com cara de morte física. Olhos que me confidenciavam não ter mais com quem compartilhar o passado. O presente já havia sumido para os olhos eremitas, engolido pela monotonia de uma gigante boca feita de dias sonâmbulos. Todos já morreram e so restou um par de retinas. A nostalgia acordou salgada no travesseiro. Rir-se ia do descabimento de acordar chorando. Será possível entender que vi o olhar da velhice com desejo de partir? Flores, árvores e infinito. Olhos que caminhavam pelas nuvens se despedindo dos que ficam e procurando pelos que já foram. Que salgado este momento molhado de saudade. O vazio da existência apareceu no espelho quando acordei. A imagem dessa manhã, refletiu tão forte nos meus olhos que meus ouvidos emudeceram.

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