quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A noite acaba de começar


Dali
Há um nada profundo na alma que habita um descampado amargo e descolorido. Volto-me ao umbigo narciso, transformado-o em centro gravitacional. Volto-me para o centro como me volto para a vida; onde todos umbigos se encontram. Arte e amor: formas invisíveis. Concluo: sem lentes de contato enxergo melhor. Tenho armas para enxergar o invisivel:olhos no peito, na testa, nas mãos, na barriga e em tantos outros lugares. Fiquei impessionada com tantos olhos dentro de mim! A expressao da vida sempre foi o meu combustivel solitario, longe das orgias alimentei-me de gente passando pelas ruas. Alimentei-me de ar puro e de solidao. Descobri que o egocentrismo eh o primo mau do amor proprio, desde entao tento ser tomada de amor para encorajar a vida. Lambo meus beicos lambuzados de saliva e sinto acordar em mim o halito de aguas salgadas. Um cheiro de ar impregnando as temporas e eu me sentindo um veleiro em alto mar. Eh bom mergulhar alem dos peixes conhecidos. As vezes , mesmo sem mergulhar posso ver peixes multicoloridos despontando como flores aquaticas em agua corrente.Amigos peixes, que bom ve-los desabrochando em grupo,ainda que eu me volte para a solidao. Caminho de tamancos pelo ceu procurando algum arco iris. Preciso de sapatos potentes para caminhar dentro de mim. Carrego sempre comigo máscara anti-compressão e bomba de inalação, pois dizem que a angústia pode causar falta de ar. Decido: vou sem malas para o aeroporto; as bagagens estão dentro de mim. Penso: o prazer solitário é um aprendizado masturbatório. O leite escorre dos meus peitos e de pernas abertas sinto que Zeus, através de uma partícula de ar, goza dentro de mim; confesso que poderia desprezar tal fato se não tivesse sentido arrepiado todos os poros. Continuo em uma longa caminhada de ossos e nervos. É quente a estrada e para resfrescar trago comigo um leque de emoções. Que difícil as palavras que nao se encontram! Impossível estar só no mundo, se existe o outro. Será possível dois universos dentro de um mesmo mundo? Não sei se quero ir além nessa prosa ou se coloco fim nesse romance cheio de letras em um só parágrafo. Quantos pontos finais em cada sentença antes do mistério do parágrafo ser desvendado? Ainda resta um nada branco e profundo. Sigo viagem sem bagagens em busca do que existe dentro e além de mim.

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