quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Silêncio



Pintura japonesa



Silêncio.
Por que procurar no outro se a chave está em si mesmo?
Em quais labirintos estarei me perdendo?
Nesse momento sou tão eu que nem eu mesma me reconheço.
Aqui e agora somos a insustentável leveza do ser .

Inernet Elétrica



Farelos. Nem remédio aguenta nostalgia. Teclo os dedos em variados sentimentos de letras notívagas. A máquina e nós. Desconexão. Essa noite acabou a força.

Pequena confissão notívaga



Passos latejantes invadem sem pedir licença. O chacra do coração tenta se proteger de qualquer fantasia. O quarto chacra é o centro: três chacras em cima e três em baixo. O meio é o equilibrio que transborda leites densos através de veias vermelhas e pulsantes que bombam suor nas artérias. Tudo conjugado. Qual é o segredo do conjunto?
Se há movimento, porque então essa sensação de que tudo é estático? Por que essa sensação da Era do Gelo dentro do vento que sopra o umbigo , o sexo, os poros e o pensamento?.
Tem um amanhecer que dói nos seios. Tem uma dor que descolore o dia. Tudo sem cor . Tudo como jornal amanhecido. Onde foram parar minhas vísceras? Alguém viu??? Alguém viu? Pelos Deuses chamem os bombeiros, chamem os salvadores que não acredito em mais nenhuma voz de alívio.
É continua a dor quase muda, esquecida. Fodida. Tem um pedaço ignoto de mim nesse amorfo estado que me encontro. O incrivel é que tenho capacidade de acordar feliz como se a noite não tivesse escutado os passos invasores na fundura de mim.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Texto de Flávio Gikovate



Texto de Gikovate sobre o estar sozinho
"Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo.
Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.
Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade..
Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação,há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo..."

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Clarice no fundo do baú



Clarisse Lispector
"Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém está me dando a mão. Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Quero olhar sem que a cor dos meus olhos importe." Clarisse Lispector

domingo, 3 de janeiro de 2010

Relendo e re- lendo Rilke


"O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si por causa de um outro ser" Rainer Maria Rilke Cartas a um jovem poeta.


Ganhei esse livro de uma pessoa muito especial em 1993: "Cartas a um jovem poeta" de Rilke. Um livro de cabeceira. Trechos que não canso de reler. A arte da escrita para Rilke é ligada profundamente a vida interior. Escrever para ele tem que ser feito por necessidade como a que temos de comer ou defecar. Veja um pequeno trecho sobre solidão, sobre amor:


"É bom estar só, porque a solidão é difícil. O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita. Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras sào apenas uma preparação. (...) aquele amor persiste tào forte e poderoso em sua memória justamente por ter sido sua primeira solidão profunda e o primeiro trabalho interior com que moldou a sua vida." Rilke