quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Era uma vez Amélia



Era uma vez Amelia, uma mulher de argila em busca de amor

“A nova pessoa que vem a mim.
A nova pessoa que vem a mim é vc?
Ouça um conselho para começar:
Eu sou com certeza bem diferente
Do que você imagina.
Você imagina encontrar em mim seu ideal?
Acha tao fácil assim eu me tornar seu amante?
Pensa que minha amizade é fonte de insatisfação e impureza?
Julga que eu seja fiel e digno de sua confiança?
Além dessa fachada, do meu jeito macio e tolerante,
Você não vê mais nada?
Acha que vem avançando
Em bases realmente firmes
Na direção de um homem realmente heróico?
Pela cabeça nunca lhe passou,
O sonhador,
Que tudo pode ser maya, ilusão?”
Walt Whitman

No centro de Sao Paulo Amélia é ou era uma garota; uma quase mulher considerada normal dentro dos padrões da modernidade. Faz chapinha, gosta de beijar, trabalha muito e ganha pouco.

Amélia muda-se para a avenida São João, no coração de São Paulo e conhece José , em cima de duas rodas, no largo do Arouche. A garota se apaixona por levar vento no rosto ao lado dele, e ver as imagens passarem apressadas com o corpo de José quente grudado ao seu. Amélia sente um gosto de pra semprematerializado em um corpo de homem ao seu lado. José é proletário da fome e corre em duas rodas todos os dias. Na cidade grande os dias realmente passam rápido demais.
José, por coincidência do destino, mora no prédio em frente do edifício-puleiro, onde Amélia sobrevive. Eram vizinhos e tão próximos que era possível ver a silhueta do outro entre as cortinas cinzas do apartamento dos amantes. "Só com binóculos posso ver. Ah sim ,com binóculos, olhos que magnificam as imagens."pensou Amélia. Foi a um marreteiro na 25 de março e comprou um binóculo importado. Como gostava de olhar Jose pelas frestas!
Até o dia em que, por um motivo ou outro, José cansou-se de Amélia. Antes considerada e endeusada como mulher de verdade , Amélia era agora aquela que não dava paz. É necessário deixar bem claro aqui: ela nào dava paz e ele não dava atenção. Ele tinha "outras" para dar atenção. Nada de amor por ali. José cansou-se dos gritos e da possessividade de Amélia.

Um não tao belo dia, ela entra em uma crise de ciúme, do tipo de quem sofre de medo de perder o que não tem; e se descabela, se unha e se bate. Uma doença perigosa levou Amélia a perder o controle e bater em José com toda sua fúria de abandono.
No limite ela diz : "Adeus. Até nunca mais." Como se fosse ela quem tivesse teminado aquela relação quase inexistente. Amélia vai para sua casa, no prédio em frente ao de José. Pensa alto: "Tudo acabado." Mas que nada. Tinha um binóculo olhando da janela de Amélia ; espiando incansavelmente o moço José. Meses se passaram e ainda um par de olhos quadrúpedes na janela. Olhos que pensavam : E se ele fizesse isso? Será que ele vai fazer aquilo? Onde estará José as 5 da tarde? Eram infindáveis as tardes com binóculos.
Todavia a verdade sempre aparece; um dia Amelia descobriu tudo. Viu tão rapido, em uma pequena lambida vesga de olhar; pela janela o seu amor se mataria. Isso ela ainda não sabia. "O binóculo pode estar errado", pensou Amélia. "Não pode ser. Esta desfocado, que merda , essa porcaria de binóculo." Quando ela esta a ponto de quebrar em pedacinhos aquelas lentes de aumento; sua única possibilidade de visão ampliada até então; ela se liga, ilumina-se e se desliga de José como um telefone cortado. Amélia muda, só pensava na outra mulher, ali, com José seu pensado-amado. Como poderia ser verdade? Mas, era.
José tirava a roupa da outra (outra =lambisgóia ) lentamente e a expressão do casal era de gozo profundo. Amélia quase podia ouvir os gemidos na sua imaginação. Amelia! Pobrezinha da que queria ser vítima. Como se ele a tivesse amado ou prometido algo ou não escutado o seu adeus. Chorou e chorou. Que bom! Depois da tragédia a abonança. Agora, finalmente, ela jogou o binóculo pela janela. Por sorte, não caiu na cabeça de nenhum passante. Parou de tomar anti depressivo e começou a fazer Yoga . Amélia sai para trabalhar todos os dias e colocou flores pra viverem em sua janela. Não faz mais chapinha. Está só, mas sente-se cobiçada. Antes só que mal acompanhada, esse é o lema. Ainda de carne . Que vai se fazer? Amélia ainda cheia de desejos. Entretanto, algo era certo: Amélia nao quer mais Josés.

Agora nao é mais importante se Jose quer Amélia, mas sim se Amélia quer José. Esperar um José nao interessa mais, perdeu-se no desfoco de imagens amanhecidas. Já esta ao longe um Jose descriado por Amélia. Surge um novo amante ainda inexixtente vindo das cinzas da janela como fênix. Vê-se o vulto e sabe-se que um dia transforma-se há em realidade. O José de mentira estava com uma M...... aria , que Amelia podia jurar que conhecia . Que cena de filme ver José transando, quase amando compassadamente uma outra. Tudo ali tão próximo em um binóculo, através da janela cinza. Parece que foi ontem, mas tanto faz as lembranças, a boca de mulher é muito umidecida e as lágrimas doces por demais. Talvez o útero de Amélia fosse grande demais para José. Tudo nesta vida é uma questão de observacão e atitude.

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