quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Manhã Solitária


Dali
Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira... (Cecília Meireles)

Pedaço de mim acordei sem ti. Acordei sem mim. Visto roxo e me preparo para o café. Frutas selecionadas em uma mesa quase vesga iluminada de luso- fusco: a toalha engole a ponta dos dedos; resta a colher ainda que as mãos tenham se perdido. As frutas se movem na compota como a angústia dentro de mim. Que prazer deglutir o que me consome: fome. Ah, se a fome fosse só feita de corpo! Sem dedos e sem mim. Ah se fosse só a solidão: eu bailaria junto com as frutas e vestiria roxo. Se fosse uma fome qualquer, acordaria longe dessa nuvem cinza que apaga o sol das retinas. Talvez me vestiria de azul royal, de preto ou nem me vestiria. Ah! Se a fome fosse pouca. Mas, tenho uma fome d’alma que dói além do estômago. Os buracos d' alma não se tapam com picanha . Espantosamente a fome real não se cala nem com chocolate. Ao raiar do dia, acordei sem um pedaço de mim. Que fome! Fome sem mesura e de largura avantajada. Sem espaço definido a fome moderna come os nadas do dia-a -dia. Será a vida um descampado sem cores? Seremos todos iludidos pelo arco-íris? Meus caros, a cor existe; além da capacidade de nossos olhos enxergarem.

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