quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Inspirado em uma frase de Hilda Hilst
Conversa subindo uma montanha
Ela: Nós subiremos toda essa colina enorme, tem certeza? Mas sem água? Sem colchonetes? Sem conforto? E além disso, nunca subi uma colina toda até o ápice antes.
Ele: Olha a colina eh alta. Pense bem. Quer subir? Vc esta preparada para andar na vertical?
Ela: Tenho medo. Não me deixe só! Por favor! Chego a suar calafrios em todos meus poros. Não vês? Estou morrendo aos poucos. Que medo do desconhecido! Mas meu anjo, eu quero. Quero subir a colina.
Ele: Coragem.
Ela: Não tens medo amado? Como tu se sentes?
Ele: Tranquilo.
Ela: Tranquilo? Como assim tranquilo? Como se eu sinto que meu peito vai e vem?
Ele: Cuide desses triângulos no seu umbigo. Vai ser difícil a subida. E solitária.
(Os dois sobem silenciosos, ela geme um pouco, de dor. Ele, quieto, respira pausadamente. Depois de um tempo ela se desespera e faz cena)
Ela (chorando): Como você não diz nada? Cade você? Você tá morto é? Fala alguma coisa !
(Tenta estapear Ele mas Ela nem tem forças para chegar perto dele)
Ela: Pode fazer o favor de abrir sua boca? Nem parece que você está aqui! Como você se sente agora? Fala. Fala. Fala.
(Silêncio total)
Ela: Por favor diz... Diz alguma coisa. Se eu pudesse te adivinhar! Mas, continuo morrendo nessa subida que não acaba mais. Fala como você se sente, por favor. Fala.
Ele: Tranquilo. Muito calmo. A subida querida, o ápice da colina , é como subir um pequeno degrau para o paraiso.
(Os dois silenciaram, ela chorou, esperniou, ficou solitária mesmo acompanhada daquele homem. Andaram e andaram, sozinhos, cada um com sua solidão. Após a nona sinfonia terminar e suas últimas notas chegarem ao ápice Ele olha para Ela e o no ápice da montanha olham os dois para o céu)
Ele: E então como se sente agora?
Ela: Sinto que ao chegar aqui em cima renasci, porque de tanto amar na subida eu já havia morrido.
Ele sorri. Se abraçam tranquilamente e vêm o por do sol.
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