domingo, 26 de junho de 2011

Arco íris




Ontem estava voltando pra casa ás cinco da manhã com certa bebedeira de vinho com cerveja. Resolvi parar no mercado para comprar o café da manhã. Tem um pão de açúcar 24 h no caminho de casa, praça pan americana.


Tudo estava tranqüilo. Gosto do mercado de madrugada. Não tem muita gente. É rápido pegar os itens necessários. Já com meu pão, leite e mamão no carrinho me dirigi ao caixa.

Um homem de uns quarenta e poucos anos esbravejava dizendo pra moça do caixa:

- Agora tem que aceitar bicha? Não posso nem falar nada? Eu não aceito e pronto!Que é isso! Esse governo é um absurdo! Odeio viado. ODEIO VIADO. E falo mesmo. Falo e pronto. Quer prender? Que me prenda! Eu tenho dinheiro mesmo. Não vou ficar preso! Esses bichas de merda! Odeio! Odeio esses viadinho! Se eu vê um eu mato! Juro que eu mato.

Ele me olhou de canto de olho. Era assustador. Ele bêbado e transtornado de ódio. Eu achei que eu ia esbravejar, gritar, xingar. Mas, fiquei imobilizada, como quem sofre um abuso. Quase que uma imobilidade mórbida. Não havia o que fazer. Meu celular estava no carro senão teria gravado o indivíduo. Estava despreparada, bêbada. Chorei. As cinco da manhã chorei de tristeza, de raiva de desespero.

A moça do caixa me olhou e disse:

-Cada uma que a gente tem que ouvir né? Tem dinheiro! E o Edmundo não foi preso? Tá bom.

Eu disse com a língua entre os dentes:

- Ele foi solto.

Ela olhou triste pra mim e para outra funcionária que empacotava as compras:

- Tá vendo. Quem tem dinheiro não vai nem preso. Mas, que horror essa gente que tem dinheiro. Eu hein!

Os olhos dela estavam cansados. Eu criei uma vontade de falar e falei do homem que havia saído de lá, falei do direito, falei , falei , falei. Nós três ali paradas no caixa e o sol estava custando pra amanhecer. Tem manhãs que o dia parece que vai ser breu, neblina. Mas tinha que ter dia. Hoje era a parada LGBT! Hoje teria com certeza arco íris na paulista.