segunda-feira, 1 de junho de 2009

Separação a luz de Munch


Despedidas nem sempre sinceras podem ser para sempre. Aquele adeus desviado, de mãos escorregadias e sem força deram um ponto final a possibilidade de um dia juntos. Esvai-se como espírito que sai do âmago. Vai embora e eu só mãos. Eu só pedaços de mim paralisada embaixo de uma árvore. Pergunto: porque? Dedos que afagavam carne e pêlos se espalmam ao relento pelo horizonte. Um dia tem que ter fim essa sombra de alguém que some dentro de mim. Se só angústia o eterno deve acabar.
Olhos enxarcados de sal molham os poros e dão gripe no coração. Um aperto bem fundo. Um sair de casa deixando um epírito no quarto. Morrer sem um adeus é o pior. E se ventas grandes pudessem arrastar as mágoas para outro continente? Dói e arde tanto o sal com água. Chega a parecer chuva de facas passeando pelas rugas do corpo. Se fosse água com chocolate! Que a doçura passou longe.
Só chuva cai nos pensamentos, mas tem algum sangue coagulado na tomada de decisão. Chegou o momento de agir depois de tanto ensaiar a ação. O erro do outro pode também ser nosso aprendizado. Mãos espalmadas como quem quer acariciar se despedem sem tocar nada além da tela do computador. Melhor assim. Algo brilhante vai esquentar o futuro depois desse presente em nevasca. Depois do inverno, outono, primavera e verão. Já estou outono com folhas espalhada pelo chão. Ai que se eu pudesse ver as flores nascendo antes de terminar o vento gelado. Todavia, tudo tem seu ciclo. Nada é antes da hora.
Decido que vou me benzer em mulher de branco. Vou pedir pra benzer todo meu passado com água benta.
De sal é meu banho e de lágrimas meus olhos. Sempre algo para aprender todo dia. Dia após dias de espera. Este é o dia de ir embora. Vou conversar com D’us essa noite. Sei que depois da dor devastadora deve haver algum alívio.
De prata um espírito se esvai. Sinto o colorido nostálgico do anoitecer como sinto Munch expressando em cores suas dores.

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