terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sonho de saudade


Vladimir Kush



Ainda. Saudade. Ainda. Hoje logo nas primeiras horas do dia sonhei acordada: tinha sua boca dentro de mim e a barba roçando meu rosto. Sonhei com você dentro do meu âmago. Seus dentes rangiam um pouco e suas mãos pareciam delicados sons de veludo segurando meus seios e seus dedos singelamente olhavam para dentro dos meus poros. Pêlos, pernas enroscadas e orgasmos múltiplos: assim nascia o sol no quarto dos meus sonhos. A geografia de nervos, cabelos e músculos estavam para a anatomia física como nosso amor para o etéreo. Te engolia aos poucos e meu ser pulsante sorria. Amava á meia-luz, de dia em uma noite cinza escura. Amava e sorria dentro de você. Sede de seus beijos me colocavam no deserto do Saara mendigando sua saliva. Te necessitava todo seu, meu, todo dentro de mim. Sua imagem dentro do meu sonho se expandia e quase sumia nas entrelinhas. O que os olhos não vêem a imaginação desenha disse o menino. Que bonito o que disse o menino! Que bonito o sonho existir! Ah! Amado que há muito quero em sonhos dourados. Se não tiveres coragem de bater na minha porta eu desaparecerei da tua janela.
Que você possa me sugar até o fim, até que eu renasça fênix no céu da nossa cama. Vou embora, vou para meus aposentos, o inconsciente da noite, e te convido para que você visite minhas entranhas. Sinta-se em casa meu amado e venha para o meu sonho e me deixe te lamber, te tocar , assoprar delírios nos teus ouvidos. Mas vá embora, deixe meus sonhos amor meu, se não puderes ficar por inteiro. Não te quero pelo meio. Só tudo pode ser o suficiente quando procuramos o nada das coisas. Não suporto o nada que não contém o todo. Ainda saudade. Ainda. Assim acordei.

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