"Cuide de você é um exemplo expandido e grandioso de como se sobrepõe, no trabalho de Sophie Calle, a experiência comum da vulnerabilidade humana e uma proposição estética de traços únicos. Aqui há um universo de discursos femininos, filtrados por óticas profissionais específicas- ora em análises extenuantes, ora em interpretações artísticas livres-, que somam para esgotar, até a última minúcia, os significados por trás das palavras que compõe uma carta de rompimento. A sustentar tudo, há a dor universalmente identificaável de uma perda amorosa.” Danilo santos miranda
"Recebi uma carta de rompimento
E não soube respondê-la.
Era como se ela nao me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: “cuide de você”.
Levei essa recomendacao ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,
Para interpretar a carta do ponto de vista profissional.
Analisá –la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Egotá –la
Entende –la no meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim” Sophie Calle
Quem nunca sentiu dor de amor? Há uma identificação, em geral, dos visitantes com a obra. A pessoas transitam pela exposição com um caderno de cartas nas mãos, vêem fotos, vídeos; transformacões, representacoes e interpretacões de uma carta de rompimento amoroso enviada por email.
Muito divertida a terapeuta familiar interpretando a carta: ela que propõe uma conversa com Sophie, uma cadeira vazia com uma carta "sentada"representando o ausente e a terapeuta. Fantástico como todos podemos nos apropriar de um fato específico e sentimental de modo que este vire algo coletivo e nos identifiquemos com o fato: uma criminalista, uma professora de primário, uma escritora, uma juíza, uma diplomata, uma advogada, (etc...) lêem a mesma carta.
Uma das respostas veio em forma de ficção, muito interessante, a escritora de estórias infantis cria uma metáfora do homem com o diabo que o acompanha em forma de ganso. Ele quer que a rainha se apaixone por ele a todo custo. Pede que o diabo realize a façanha. Este gosta da brincadeira e faz com que a rainha se apaixone pelo rapaz. Mas, ao ver a rainha apaixonada o rapaz não se contenta e acha que pode ser abandonado: precisa de uma prova de amor, e pede o braço direito da rainha. A rainha que o ama muito arranca seu braco direito. Ao ver tamanha coragem ele ainda não se dá por satisfeito, continua desconfiando do amor da donzela, e pede que ela arranque o olho. A rainha apaixonada obedece. Ao ver a rainha multilada o rapaz volta a sã consciência. Vê a mulher multilada e não a quer mais. A mulher explica que foi ele quem pediu isso em prova de seu amor. Ele diz que prefere voltar a ficar com suas outras “amigas” e abandona a fiel rainha. A rainha fica muito triste e deprimida. Então, o diabo aparece para ela e devolve seu braço e olho. Ela organiza um grupo de mulheres e todas marcham para a casa do fulano e essas multilam o rapaz. Bem, está é uma síntese da síntese. Muito melhor a estória completa.
A imagem assim como as palavras podem ser polissêmicas. Um cristal de varios lados é cada ser humano. Uma surpreza cada resposta, cada análise específica. Como cada um vê e interpreta o mundo? E uma carta? o que há de coletivo na estória do um?
A beleza da diversidade fica exposta no trabalho da artista. A estoria tem poder social, apartir do momento que eh dividida com outros e estes leem, interpretam a estoria.
Para terminar, vou citar a resposta da adolescente: ele se acha!
Vale conferir.
Para terminar, vou citar a resposta da adolescente: ele se acha!
Vale conferir.
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