domingo, 12 de julho de 2009

A exposicao de Sophie Calle: “cuide de voce”


"Cuide de você é um exemplo expandido e grandioso de como se sobrepõe, no trabalho de Sophie Calle, a experiência comum da vulnerabilidade humana e uma proposição estética de traços únicos. Aqui há um universo de discursos femininos, filtrados por óticas profissionais específicas- ora em análises extenuantes, ora em interpretações artísticas livres-, que somam para esgotar, até a última minúcia, os significados por trás das palavras que compõe uma carta de rompimento. A sustentar tudo, há a dor universalmente identificaável de uma perda amorosa.” Danilo santos miranda


"Recebi uma carta de rompimento
E não soube respondê-la.
Era como se ela nao me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: “cuide de você”.
Levei essa recomendacao ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,
Para interpretar a carta do ponto de vista profissional.
Analisá –la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Egotá –la
Entende –la no meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim” Sophie Calle

A exposição de Sophie Calle, “cuide de você”, está no sesc pompéia até o dia 7 de setembro. A polêmica artista transforma em arte suas dores pessoais. Faz arte com maestria e uma sofisticada elaboração conceitual trancendendo a experiência pessoal e tocando o espectador que aprecia sua obra.
Quem nunca sentiu dor de amor? Há uma identificação, em geral, dos visitantes com a obra. A pessoas transitam pela exposição com um caderno de cartas nas mãos, vêem fotos, vídeos; transformacões, representacoes e interpretacões de uma carta de rompimento amoroso enviada por email.
Muito divertida a terapeuta familiar interpretando a carta: ela que propõe uma conversa com Sophie, uma cadeira vazia com uma carta "sentada"representando o ausente e a terapeuta. Fantástico como todos podemos nos apropriar de um fato específico e sentimental de modo que este vire algo coletivo e nos identifiquemos com o fato: uma criminalista, uma professora de primário, uma escritora, uma juíza, uma diplomata, uma advogada, (etc...) lêem a mesma carta.
Uma das respostas veio em forma de ficção, muito interessante, a escritora de estórias infantis cria uma metáfora do homem com o diabo que o acompanha em forma de ganso. Ele quer que a rainha se apaixone por ele a todo custo. Pede que o diabo realize a façanha. Este gosta da brincadeira e faz com que a rainha se apaixone pelo rapaz. Mas, ao ver a rainha apaixonada o rapaz não se contenta e acha que pode ser abandonado: precisa de uma prova de amor, e pede o braço direito da rainha. A rainha que o ama muito arranca seu braco direito. Ao ver tamanha coragem ele ainda não se dá por satisfeito, continua desconfiando do amor da donzela, e pede que ela arranque o olho. A rainha apaixonada obedece. Ao ver a rainha multilada o rapaz volta a sã consciência. Vê a mulher multilada e não a quer mais. A mulher explica que foi ele quem pediu isso em prova de seu amor. Ele diz que prefere voltar a ficar com suas outras “amigas” e abandona a fiel rainha. A rainha fica muito triste e deprimida. Então, o diabo aparece para ela e devolve seu braço e olho. Ela organiza um grupo de mulheres e todas marcham para a casa do fulano e essas multilam o rapaz. Bem, está é uma síntese da síntese. Muito melhor a estória completa.
A imagem assim como as palavras podem ser polissêmicas. Um cristal de varios lados é cada ser humano. Uma surpreza cada resposta, cada análise específica. Como cada um vê e interpreta o mundo? E uma carta? o que há de coletivo na estória do um?
A beleza da diversidade fica exposta no trabalho da artista. A estoria tem poder social, apartir do momento que eh dividida com outros e estes leem, interpretam a estoria.
Para terminar, vou citar a resposta da adolescente: ele se acha!
Vale conferir.

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