segunda-feira, 6 de abril de 2009

Assobiar no escuro nao faz a luz ascender



Marc Chagall
"Na ética humanista o bem é a afirmação da vida, o desenvolvimento das capacidades do homem. A virtude consiste em assumir a responsabilidade por sua própria existência. O vício reside na irresponsabilidade perante a si mesmo” Erich Fromm

Dinheiro, prestígio e poder transformaram-se nos incentivos e fins do ser humano contemporâneo. Agimos na ilusão de que nossas ações beneficiam nosso interesse próprio, embora na verdade atendemos a tudo, exceto os interesses do nosso eu real.
Preservar a própria existência, segundo Spinoza, é tornar-se alguém que potenciamente ja se é. "Um cavalo seria igualmente destruído sendo transformado em homem ou em inseto"diz Eric Fromm.
A virtude é a expansão das potencialidades de cada organismo. Para o ser humano, a virtude é o estado em que ele é humano ao máximo.
O ser humano é um fim em si mesmo e não um meio para que a autoridade o transcenda. Porém, existe um sentimento de solidão vinculado a uma sensação de incapacidade individual que massacra. Em meio ao caos das ilusões, em que nos achamos mergulhados, só há uma coisa de verdadeiro: o amor. Tudo o mais é nada, um vácuo completo. Espiamos para um imenso abismo escuro e sentimos medo.
A maioria dos seres humanos ficam em seus pequenos spots, massacrados pela rotina diária de suas atividades, pela segurança e aprovação que encontram em suas relações privadas ou sociais, pelo sucesso nos negócios, por diversas “distrações”, por meio dos seus “divertimentos” e “viagens”. Contudo assobiar no escuro nao faz a luz ascender.

sábado, 4 de abril de 2009

De tudo ao meu amor serei atento


Soneto de Fidelidade
"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."
Vinícius de Moraes


Um prazer de gozo enrosca meus pelos, minhas ventas e lingua.
Em uma corrida lenta, recheada de leveza, suas maos passeiam pelos meus seios, lirios, cabelos e pedacos inteiros.
Desvendo sua geografia que, desde ja, faz parte da minha historia.
Agora: respirar eh olhar voce
Eh te sentir lambuzando os labios de amor eterno.
Amo, amo, amo.
Respiro feliz a luz do dia
Que brilha na costela, no quadril e em boca de saliva doce.
Beijo seu peito molhando os labios com denso caramelo nascido do seu coracao.
Me ama, que eu tambem quero me sentir dentro de voce.
Jorra vida dentro de mim.
Vem. Vem. Vem.
Que eu ja caminho com asas de Icaro
Voando alem das nuvens
Muito, muito perto de voce.

O despertar

"Somos o que fazemos repetidamente. Por isso o mérito não está na acão e sim no hábito." Aristóteles
Vem chegando o amanhecer. Nada mais cheio de impressões que o sol nascendo. Nada mais cheio de vida, mistério e ação que nascer todos os dias. Se todos nós fossemos sol e nascessemos após cada noite de sono, seriamos eternos.
Ainda há flores no nosso jardim que despertaram murchas. Que maldade esquecer de aguá-las! O que dispersa o pensamento? O que nos faz esquecer a realidade? A ilusão? Talvez o que nos dispersa seja vivermos em um mundo que não existe, um mundico criado por nós mesmos. Palavras se perdem no nunca acontecer passos concretos em direção a um objetivo. Projeções doentias se alastram pela modernidade. Visões deslumbradas que querem recriar um mundo mais belo tomam posse das psiques. Pobre visão des-humana des-focada que não se aproxima do real.
De que vale a boa intenção? De que vale o ciclo vicioso dos pensamentos? A nossa inteligência pode nos prender e nos distanciar do que é o caminho reto. Queremos que o pensamento se conflua em emoção inteligente! Pensamentos de alma. Palavras de espírito. Ações e contra-ações de verdade.
Não acredito mais em palavras. Não acredito em Papai Noel. Que a ação seja agora! Revolução é mudança de hábito. Transformação: transforma-ações! Que venha a revolução que já estou de armas nas mãos.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Infancia de Maria ou uma infancia perdida entre estrelas cadentes

Cai uma estrela do ceu. Chora uma gota brilhante de menina, nostalgica. Uma garota chorou salgado por sentir eterna saudade do que ainda nao havia vivido. Uma infancia recheada de remedios e solidao sem fim. Este era o cenario, a casa de Carmim. Ela todos os dias adormecia em frente ao seu terno jardim. Uma pena que o jardim cheirava a cacto. Maria pensava: que gosto de infancia perdida dentro de mim! Descoloridos conflitos escorrendo como se a agua nunca fosse ter fim. Toda agua do mundo rolando pelo rosto de Maria que nem rugas tinha. Ufa! Um dia, surpreza, nenhuma mao acordou passeando pelo corpo da menina. Ela estranhou. Estava acostumada a angustia de ser um objeto des-necessario. Vulgo:buceta ambulante. Escrava da vida era Maria. Serva da aparencia e do amor in-condicional/sem–condicao. Dentro de casa o vilao que a menina de pequena nao entendia, todavia temia. Ainda caiem muitas lagrimas do ceu de Maria. Que blasfemia que tantas e tantas Marias ja tenham tido uma infancia tao cinza um dia.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Short Cut

Edgar está na porta da cozinha lendo o caderno de esportes. Tem uma tv ligada no jogo da Etiópia com Kazequistão. Ana faz comida com muito amor. Ela tem um romantismo no jeito de cortar a cebola para o strogonof.
-Ei amor, você sabe onde está a pimenta?
Silêncio total
-Amorzinho, você viu a pimenta? Amor... Amor?
Edgar nem desvia o olhar do jornal.
- Porra Edgar, voce é surdo?
-Da licença , você está na frente da tv!
Ana chora.
Edgar não entende a atitude, mas sente compaixão pelo choro da mulher amada.
-Parece bebê. Só sabe chorar!
Edgar abraça Ana. Ele lhe dá um beijo. Ela se entrega. Ele para de beijar repentinamente. E murmura:
-Ops! Hoje eh dia de futebol.
Continua:
-Amorzinho esqueci que hoje eu tinha combinado de bater uma bola e comer feijoada com o pessol lá no Bar do Amaral.
Beija Ana na testa.
- Minha pixuquinha linda! Eu vou correr que eu tô atrasado.
Ele vai embora. Ela para em frente ao fogão e olha para a comida. Pensa em jogar tudo fora, mas não tem forcas para erguer a panela. Paralisada rola pelo seu rosto uma só lágrima.
Barulho da tv em contradição com o silêncio e a imobilidade de Ana. Etiópia faz gol. Edgar se esqueceu de desligar a tv.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Roi, Roi

Bichinho da seda corroe um copo de leite. Peitos aguniados e cobertos por mexilhoes obstruiem as veias e fazem cocegas no sangue. Um barulho informal rodeia os timpanos. Fugir= correr para lugar nenhum. Quanto mais impusiono o corpo para a fuga, mais prendo-me ao lencol da cama. De janelas fechadas respiro um ar rarefeito. Tontura. As pessoas passam como slides, como fotografias ambulantes por uma mente esfumacada.
Bichinho da seda corroe a folha-aguia que esburaca-se ao passear taturana pela sua superficie. Uma lagrima.Um choro sem chororo. Amendoas. Castanhas. Mastigo frutas quentes. Colorindo bolinhos me sinto observada.
Cai uma estrela do ceu. Entre as montanhas nuvens de chuva. Trovejam pensamentos deconexos. Esfria uma crosta no peito e por dentro tudo ferve como no centro da terra. Mas, quem disse que ferve o centro do mundo se ninguem nunca chegou ate o fundo? Pode ser que no meio do caminho volte a esfriar. Quem sabe?
Bichinho da seda roi o quentume de dentro da costela . Um supiro e uma interrogacao. Roi, roi.

Tarde vazia


Letargia dourada: passarinhos voam dentro de gaiolas. O ar eh denso e a grandiosa arvore apavora. Construo partindo do nada. Se todos pudessem imaginar a grandeza do nada, a dificuldade do vazio! Eh compreenivel que quem so ve o prato vazio conheca apenas a fome e nao a possibilidade de encher o proprio prato. Que seja concedido a todo ser humano o vazio, para que cada momento possa ter um sabor especial e unico. Que cada segundo possa ser duglutido, dando espaco para novos e muitos nadas. Fim da tarde, parque vazio. So ficam no parque os passaros e os patos, detenho-me nos patos que nadam livres no lago que parece nao ter fim.